Cada um no seu quadrado
*Por Juliana Baron Pinheiro
Dia desses, eu tive alguns desentendimentos. Desentendimento no sentido de divergir das convicções de outras pessoas, porque não houve um confronto direto. E então, que eu fiquei alguns dias ruminando os acontecimentos pra tentar entender porque aquilo me incomodou e o que eu faria com a situação. Pensei, refleti, escrevi, conversei com pessoas próximas e por fim levei o assunto pra minha terapia. Depois de contar tudo, chegamos juntas, eu e minha psicóloga, a diversas conclusões e é sobre uma delas que eu venho escrever hoje pra vocês.
Desde o ano passado eu venho realizando uma atualização de identidade muito grande. Em conjunto com tudo o que viesse na época pra me acrescentar e me esclarecer – terapia individual, terapia em grupo, coaching, Deus, leitura, conversas, cursos – eu tentei reformular quem eu era e o que em mim precisava ser revisto. E uma das grandes, pra não dizer a principal, atualização, foi a minha co-dependência . Que em suma, é você ser aquele alguém, que esta sempre querendo controlar, entender e interferir na vida de outra pessoa. E que por conta disso, ora oscila entre o papel do perseguidor e ora o da vítima. O assunto por si só renderia inúmeros textos de tão rico, mas basicamente a co-dependência é isso, é você viver fora da sua própria raia porque esta ocupado demais invadindo o espaço de outrem.
Depois que eu constatei que passei grande parte da minha vida vivendo dessa forma, muita coisa mudou. Ou pelo menos começou a mudar, porque não é fácil você perceber e assumir essa responsabilidade. Mudar então, porque controlar funciona como um vício. Porém, enquanto você controla o outro, tentando sempre entender os seus sentimentos e os seus comportamentos, é como se você se escondesse dos seus próprios problemas. Sabe aquela famosa teoria que diz que dois corpos não ocupam o mesmo espaço? É impossível que você consiga viver a sua própria vida enquanto vive a do seu marido, a do seu pai, a da sua mãe e a de qualquer pessoa que cruza o seu caminho.
Hoje, por mais que eu já tenha melhorado muito, por vezes ainda me pego nesse dualidade perseguidor-vítima. Tomo as dores da amiga, resolvo um problema do marido e me meto nas questões de outras pessoas. Tudo pra ajudar, claro, com a maior das boas intenções. Mas vocês percebem que é DA amiga, DO marido e DE outras pessoas? A intenção é ótima, mas eu canalizo as minhas forças pra situações que não me dizem respeito e ainda corro o risco de ser mal interpretada. Então de perseguidora-controladora, eu passo pra vítima! Coitada de mim!
E essa visão se estende aos casos em que você discorda da atitude de outra pessoa. Entendam, assim como eu venho tentando entender, que a única pessoa no mundo a quem você pode exercer controle, impor limites e promover mudanças, é você mesmo e mais ninguém. Você pode discordar da atitude do marido, do pai, da mãe, do papagaio e da chata da sua vizinha, mas isso pertence a eles e certamente não é você que vai conseguir muda-los ou fazer com que eles sejam diferentes.
Então, tudo o que aconteceu comigo nos últimos dias, se eu não tivesse refletido antes de agir, serviria apenas como um desencadeador pra eu voltar a fazer o que fiz a vida inteira. É como um vício mesmo, porque se não permanecermos alertas ao que acontece conosco, se bobearmos, nadamos na raia do outro e abandonamos a nossa por completo, abrindo ainda espaço pra que alguém conduza a nossa vida.
Realmente é um saco admitir que não podemos e que não adianta sairmos por aí dando lição de moral em todo mundo, porque querer que o mundo gire de acordo com as nossas expectativas é uma proposta tentadora, mas completamente irreal. Mudar pode parecer fácil, mas não é. Pode parecer impossível, mas não é também. Porque quando você aprende a focar toda a sua energia apenas naquilo que te cabe, a sua vida engata num automático e o que acontece ao seu redor, e que não te diz respeito, passa despercebido. Afinal, você esta ocupado demais resolvendo os seus próprios dilemas e buscando a sua própria felicidade.
Beijos, Juliana Baron Pinheiro
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.