Des-educação sexual
* Por Frederico Mattos
Fico me perguntando como é a iniciação sobre a ideia de sexualidade da nova geração que tem acesso ao Google, o Wikipedia e tantos outros canais que deixam o acesso livre a todo tipo de conteúdo. Acho bonita essa democracia, no entanto, estar com um manual não quer dizer que se saiba tudo o que um assunto pode fomentar de crescimento e realização.
Saber que sexo envolve pênis, vagina, boca, língua, ânus, dedos e posições variadas não resume o assunto ou esgota suas possibilidades.
Você nunca sabe como será sua próxima experiência sexual, ainda que tenha repertório e experiência vasta. É como um novo dia de trabalho, uma apresentação pública, um dia de aniversário, ainda que imagine como será sempre existe uma particularidade nova que não estava contemplada.
Esse tipo de visão estereotipada de sexo como coito sequestra tudo o que existe de possibilidade real em torno da sexualidade. Normalmente esquecemos do que nos leva para a cama com outra pessoa e que torna o ato sexual realmente interessante.
É a narrativa em torno do sexo que traz com tintas agradáveis ou terríveis o prazer ou o desprazer sexual.
Penso num casal que está unido há 10 anos como eles vão estimular a imaginação do outro para engajar o sexo de qualidade. Eles já não dispõe do mistério pelo corpo do outro, pelo menos não tão facilmente, pois precisam acessar outras camadas da sexualidade, que sem serem óbvias, elevarão a mera transa a um outro patamar. Nesse caso transam com o percurso de anos de intimidade pessoal, quase o trabalho de um artesão.
Assim que vejo o sexo, como uma escultura a ser realizada com esmero em que as regras e etiquetas protocolares ensinadas nos manuais ou escancaradas em filmes pornôs não contemplam.
Evocar o desejo de um jovem de 15 anos é a coisa mais fácil e, no entanto, a mais óbvia, basta o corpo nú. Para quem já viu muitos corpos nús, de muitos tamanhos, texturas, sabores e coloridos a estética ajuda mas não determina a qualidade da excitação. O ímpeto original por uma virilha olhada de forma sapeca pode catapultar o início do desejo, mas não determinar qual será o percurso da história toda.
Será que cabe uma risada no meio do sexo, uma pausa, um silêncio, uma espera, um suspiro, um pouco de tédio, uma dor, um esfriamento? Para a maior parte dos casais não, pois sexo só contempla pau na boceta, como se isso resumisse toda a esfera do desejo humano. Será que é possível que o sexo aconteça sem altos gemidos, caras de tesão e expressões costumeiras?
Nesse sentido, uma multidão de pessoas que se dizem entendidas de sexo por terem feito muito, podem saber de intensidade e de jogos comuns de excitação quando tudo vai como imaginam, mas será que estão adestradas para os contra-pontos, os desacordos e as invertidas emocionais que nos assolam a qualquer momento?
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094