O poder do silêncio
* Texto de Juliana Baron Pinheiro
Eu já venho a um tempo refletindo sobre o assunto e até já escrevi algumas vezes sobre ele. Mas foi observando as pessoas durante as férias (minha e delas) e depois de ler uma reportagem da revista Vida Simples desse mês, que resolvi escrever mais sobre, na busca de tentar formular a minha opinião e descobrir aonde eu me enquadro nesse enredo todo.
A reportagem em questão contava a experiência de uma repórter que durante uma semana reduziu e usou de forma consciente, o que ela chamou de “estímulos digitais”. Ela só poderia checar e-mails duas vezes ao dia e exclusivamente no computador, estar nas redes sociais por no máximo quinze minutos (uma vez por dia), abrir uma página de navegador por vez, utilizar o telefone apenas para fazer e receber chamadas (mensagens só poderiam ser checadas e respondidas uma vez por dia), não fazer nada mais enquanto estivesse ao telefone, (principalmente comer, o que só poderia ser feito em silêncio). Além disso, ela não poderia ler jornal durante o café da manhã, só ligaria a TV uma vez por semana e faria cada coisa de uma vez.
Ufa! No mundo em que vivemos hoje, essas restrições podem soar como um martírio e como um algo inatingível. Mas enumerando todos esses estímulos que praticamente todos nós utilizamos diariamente, fica visível o quão nos tornamos dependentes e reféns deles.
E então engato os questionamentos que venho fazendo durante as minhas caminhadas no calçadão da praia: Porque será que cada vez mais preenchemos as lacunas da nossa vida com aparelhos e informações (ou sub-informações)? Porque se tornou tão difícil substituir a companhia do mundo virtual pela nossa própria companhia?
Observando os turistas, que de férias por pressuposto deveriam estar desacelerando, percebi que muitos não suportam a solidão. Acumulam tarefas, compromissos e vícios para não se permitirem desfrutar de verdade do seu silêncio e de tudo que pode o acompanhar. Vocês já pensarem porque algumas pessoas só conseguem dormir com a televisão ligada, por exemplo? Pelo menos para mim, é a noite que surgem as minhas maiores reflexões, grandes ideias advindas do meu estado de ausência de estar fazendo qualquer outra coisa que não estar em contato com a minha mais profunda consciência. Só que a grande maioria prefere calar essa voz interior que só existe quando isolada de todo o resto, por receio de ouvi-la e de confirmar a necessidade de parar um pouco e de se questionar. Porém, quando abafamos a nossa voz interior com sons externos é como se sufocássemos alguém que precisa urgentemente nos dizer alguma coisa.
Voltando aos estímulos digitais, que possuem uma grande influência nessa fuga de escutarmos o que temos a nos dizer, queria deixar para vocês essa ideia de nos conscientizarmos sobre os seus usos na busca de dosarmos o tempo que gastamos conectados a eles. A repórter da Vida Simples sugere em sua reportagem uma “Dieta de Informação”, que é o título do livro de Clay Johnson, um dos responsáveis pela campanha presidencial de Barack Obama em 2008 e que consiste em você filtrar as informações que coloca dentro de si. Porque como disse ela no seu texto, a responsabilidade do filtro deve partir de nós. Não adianta culparmos terceiros, como a mídia, pelo lixo que absorvemos diariamente, assim como não podemos culpar a batata frita pela obesidade. A falta de educação alimentar é nossa, assim como a falta de educação informativa.
Conversando esses dias com a filósofa Dulce Magalhães, falamos sobre as pessoas que se julgam leitoras ávidas por afirmarem que leem até rótulo de shampoo. Adquirir o hábito da leitura é uma dádiva, mas não filtrar e escolher aquilo que você lê é perda de propósito.
Sei que estabelecer regras com relação ao uso dos estímulos digitais não é tarefa fácil. Vivemos na era digital e quase todo o nosso cotidiano esta ligado a ela. Mas utiliza-los de forma consciente e prioritariamente benéfica não só é possível como é saudável. Porque quando conseguimos separar e diferenciar o que é importante do que é urgente, damo-nos a chance de viver a vida intensamente e com todas as benesses que ela pode nos trazer.
Calar o turbilhão de informações que nossos sentidos captam diariamente por alguns minutos e selecionar aquilo que nos é necessário, é permitir que as questões de real importância tenham a chance de emergir. Porque se não nos apropriarmos de nós mesmos e darmos vez a todas as questões que silenciosamente sobrevivem dentro de nós é como emudecer alguém que precisa muito desabafar.
Proponha-se um desafio e silencie por alguns momentos todos os estímulos externos, sejam eles digitais ou mundanos, como aquele alguém que lhe exige sempre atenção. Garanto que o retorno recebido será muito mais valioso do que uma simples curtida ou ter conhecimento de que em algum lugar do mundo aconteceu alguma coisa.
Beijo beijo
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* Juliana Baron Pinheiro: casada, mãe, mulher, filha, irmã, amiga, formada em Direito, aspirante à escritora, blogueira e finalmente, estudante de Psicologia. Descobriu no ano passado, com psicólogos e um processo revelador de coaching, que viveu sua vida inteira num cochilo psíquico. Iniciou uma graduação para compartilhar com os outros a maravilha da autodescoberta e que acabamos buscando aquilo que já somos. Lançou seu blog “Psicologando – Vamos refletir?” (www.blogpsicologando.com), com textos que retratam comportamentos e sua caminhada no curso de Psicologia.