Faculdade de Psicologia
* Por Frederico Mattos
Com certa freqüência eu ouço algo desse tipo: “desde que conheci seu trabalho a vontade de fazer faculdade de psicologia cresceu” ou “adoro entender a mente humana, pensei fazer psicologia” ou “pensei em abandonar tudo e seguir o que você faz” ou “sempre quis fazer psicologia mas minha mãe/esposa/marido/amigos dizem que é uma furada”.
Quero argumentar cada um desses itens
“Desde que conheci seu trabalho a vontade de fazer faculdade de psicologia cresceu”
Quero fazer um alerta, devo apenas 30% do meu trabalho trabalho atual a faculdade de psicologia. Acredito que tudo depende do que se queira fazer com a psicologia. Quando as pessoas me veem escrevendo no meu blog e outros tantos, ou com os livros e consultório particular pensam com a lógica típica de mercado de administração ou engenharia e acham que alguém vai efetivamente perguntar pelo seu diploma.
Carl Gustava Jung, psiquiatra que admiro e estudei profundamente em minhas especializações escreveu certa vez “Não é o diploma médico, mas a qualidade humana, o decisivo.”
O fato de ser formado numa faculdade mais cara ou disputada pode afetar na qualidade dos professores e no nível de interação com outros alunos, mas quem faz o curso de psicologia é você. Pode passar os 5 anos gandaiando ou se dedicando a muito mais do que aprender técnicas e jargões psicológicos, mas a se desenvolver enquanto ser humano.
Ser um psicólogo formado não quer dizer nada no meu entendimento, pois me formei com colegas de turma a quem eu não entregaria nem meu inimigo para ser tratado. O diploma de psicologia não confere a ninguém maturidade, bom senso, raciocínio lógico aguçado, sensibilidade humana, capacidade de pensar de forma não usual, superar preconceitos e limitações pessoais. Você pode ter 10 ou 30 anos de formado e ser uma pessoa geniosa, infantil, fechada e caxias.
Se é a qualidade humana o decisivo posso até afirmar que pessoas não formadas teriam mais habilidade para cuidar emocionalmente de outras que os psicólogos formados. Conheci xamãs, músicos, artistas, terapeutas (não-psicólogos) muito mais habilitados para ajudar alguém do que os formados por faculdade. Isso não quer dizer que acho que devemos queimar o diploma de psicologia, afinal alguém que passou 5 anos na faculdade pelo menos foi confrontado com muitas dessas limitações. Mas sem terapia pessoal, busca profunda pela vida, especializações na formação impactantes e contatos com visões de mundo maduras você é só um técnico em mente humana, mais nada.
Ser psicólogo para mim é o que eu descrevi nesse texto [leia aqui], muito suor, cabeçada, trabalho prático e estudo.
“adoro entender a mente humana, pensei fazer psicologia”
Você não precisa fazer faculdade de psicologia para entender a mente humana, pode ler livros, observar pessoas, interagir com elas de uma maneira observadora e com intenção de ajudar. Na faculdade o que é passado são indicações e discussões de autores e técnicas de pessoas que se dedicaram anos a se especializar na mente humana. Você pode ter acesso a isso tudo sem necessariamente clinicar como psicólogo.
Ser psicólogo clínico não é a unica opção para o psicólogo, ele pode atuar na área organizacional, jurídica, escolar e outras tantas. Entender a mente humana é bem diferente de beneficiá-la com os instrumentos que a psicologia oferece.
“pensei em abandonar tudo e seguir o que você faz”
Esse é o engano mais comum que vejo, de pessoas que estão insatisfeitas com sua vida profissional e acham que se mudarem de profissão para uma área de humanas isso será resolvido. Muitas encaram a psicologia como um sacerdócio ou algo parecido com “fazer o bem”. Sim, com certeza o psicólogo pode fazer o bem, mas na minha visão TODAS profissões fazem o bem, pois elas beneficiam direta ou indiretamente o ser humano. Vivemos numa cadeia complexa onde todos nos tocamos em algum ponto.
Se você é um engenheiro e gosta de psicologia, porque não se beneficia de psicologia para melhorar sua área de engenharia. Será que no fundo o que você quer não é humanizar sua própria prática profissional ou viver numa empresa humanizada? Se é esse o ponto porque não muda de empresa ou tenta beneficiá-la com sua visão humana?
Trocar de profissão pode ser um risco como trocar de parceiro amoroso, você leva seus vícios pessoais de um canto para o outro achando que está realmente fazendo uma mudança substancial.
“sempre quis fazer psicologia mas minha mãe/esposa/marido/amigos dizem que é uma furada”
Furada é você ficar perguntando para todo mundo sobre uma profissão sendo que você já decidiu por ela.
Respondo de forma simples, QUALQUER profissão é uma furada se você for covarde e ficar esperando o mercado aquecer ou entrar numa mega-corporação para ser feliz. Eu sempre soube que meu crescimento seria gradual e nada bombástico como um médico que já consegue se formar e ganhar razoavelmente bem ou um engenheiro que é contratado pela faculdade que estudou.
Se você tem que provar para alguém que é o máximo e que pode ser rico do dia para a noite a psicologia não é pra você, não porque ela não possa te dar muito dinheiro e fazer se sentir importante, mas porque você tem uma visão romantica da vida profissional. Ela não vai dar nada que você não construa.
Agi como uma formiguinha na faculdade e quando me formei, sempre estive ligado e prestando atenção em pessoas que eu considerava bem sucedidas e tentava entender o que elas fizeram para isso. Curiosamente essas pessoas sempre viram em mim um pupilo curioso e interessado e como uma profecia autorrealizadora positiva eu acaba subindo por conta da minha postura.
Não venho de uma família rica, meu pai morreu 6 meses antes de eu entrar na faculdade e passei aperto durante todo o curso, mas isso nunca foi motivo para eu me orgulhar e nem me menosprezar. Pessoas com origem pobre ou rica podem ser preguiçosas do mesmo jeito ou brilhantes. Sempre foi a qualidade humana que observei, conheci gente rica ou pobre com visões lindas ou tolas da vida.
Resumindo, pare encare o que realmente você quer quando pensa na faculdade de psicologia, pois ela também não é espaço para terapia, isso tem lugar bem claro para acontecer.
Eu incentivo as pessoas que realmente querem? Sim e se puder ajudo para valer! Amo meu trabalho como psicólogo, mas desconfio que eu amaria qualquer coisa que decidisse fazer. Você também amaria tudo?
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique], Como se libertar do ex [clique aqui para comprar] e Mães que amam demais. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. Oferece treinamentos online de “Como salvar seu relacionamento” e “Como decifrar pessoas” No Youtube seu canal é o SOBRE A VIDA [clique aqui] No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094