Burocracia emocional
Existe uma sede atual por segurança, afinal cresce a sensação de periculosidade urbana. Esse temor de ser atacado emocionalmente por “monstros” que encontramos tem crescido também. Tenho visto uma geração de pessoas que desenvolveram uma certa burocracia emocional, ou seja, uma lentidão no processo de assimilação e digestão de acontecimentos psicológicos que as leva a agirem de modo travado, retranqueiro e cheio de ressalvas. [leia mais]
Muitos alegam esse medo pelo fato de terem sofrido na mão de pessoas sem coração ou caráter e seguem justificando comportamentos bizarros por conta do medo.
Os comportamentos bizarros a que me refiro são:
– pouca energia no que fazem
– excesso de desconfiança
– questionamentos intermináveis sobre o comportamento alheio
– atitude defensiva frente a qualquer manifestação de afeto
– dificuldade em ser espontâneo
– “contratos” emocionais que garantam cada passo que dão
– lentidão para superar perdas amorosas
– mágoas sem fim justificadas por feridas que nunca se cicatrizam
– excesso de sensibilidade para qualquer lembrança ruim do passado
Essas são algumas características de quem sofre de burocracia emocional. Só tenho uma explicação para tanto temor, o ego. O medo é uma estratégia defensiva primitiva para nos proteger de aparentes perigos ambientais. No entanto, já não somos confrontados com perigos físicos com tanta frequência então transferimos essa habilidade defensiva para a mente. O medo é sempre proporcional ao inimigo e ao tamanho daquilo que tentamos proteger. Muito medo, ego inflamado, pouco medo, ego estável.
Pessoas que não sentem que tem algo a perder são menos medrosas que as demais, pois não precisam ficar defendendo seu ego precioso a todo momento. Já as pessoas que tem um ego inflamado, seja por arrogancia secreta ou pobreza psicológica, são mais sucetíveis ao medo afinal tem “muito” a perder.
A burocracia emocional é própria dos pobres de espírito, ou seja, aqueles que não sabem qual é o valor do recomeço, da humildade e das mudanças na vida de qualquer pessoa. Sem estar aberto ao inevitável da vida que nos faz cair e levantar não teríamos novas chances para descobrir o que somos ou o que podemos ser.
Ao invés do medo alimente a coração de quem não precisa perder nada mais importante do que uma nova chance de se reconstruir.