“Homem não presta!”
* Por Frederico Mattos
Eu estava na fila de uma sorveteria e ouvi a seguinte frase:
“Não existe homem que presta”
Ouço essa frase tantas vezes quanto os padres rezam o pai-nosso.
Quando você ouve alguém falar “não existe emprego que presta” é provável que pense “que estranho essa pessoa falar isso, lógico que tem emprego que preste, e se a empresa não é boa é só ir experimentar outra melhor, se ela fala que todas empresas não prestam talvez ela seja má funcionária”.
Na hora de falar de amor ninguém usa a mesma dedução lógica.
A maior parte das pesssoas se esquece que toda relação é feita de duas pessoas e, portanto, é sustentada por um jogo de forças sutis, de ambos lados.
Se a pessoa fala que não existe homem/mulher que presta eu posso pensar em algumas hipóteses.
1- Ela tem procurado no lugar errado.
2- Ela tem tentado pouco e a amostragem total não representa
3- Ela tem agido de um jeito que espanta qualquer pessoa
4- Ela tem agido bem, mas ainda não encontrou uma pessoa compatível com os seus propósitos
5- Ela adora generalizar e tomar um por todos e todos por um
6- Ela está falando especificamente de uma pessoa que a rejeitou ou a traiu e estendeu esse raciocínio para não assumir sua parte na história
7- Ela se reúne com as amigos solteiros como ela para falar “das pessoas da balada”
Em momento nenhum ela se põe na jogada para entender que NADA do que acontece na vida dela está completamente desligado daquilo que ela é.
Relacionamentos são rendas feitas à quatro mãos. Quando algo não presta não foi de um lado só.
Já vi muitos casos, MUITOS, de pessoas que se envolveram com parceiros que “não prestavam” e ao terminar relacionamentos com elas se engajaram em um relacionamento sério, noivaram e casaram.
O que ela tem a dizer sobre aquilo?
Nada, porque não há nada para dizer. A não ser que ela não foi suficientemente interessante para ele levar as coisas à sério.
Existem muitas pessoas que não oferecem nada enquanto experiência pessoal, mas estão o tempo todo se queixando dos outros Porque eles deveriam ficar ao lado delas fiéis à uma companhia que no final das contas vai sair batendo pé, esbravejando e dizendo que “homens/mulheres não prestam”.
Eu não ficaria ao lado de uma pessoa desconfiada, raivosa, ressentida com exs e cheia de mimimi. Quero ganhar tempo na vida, não acho que a maior parte das pessoas seja diferente.
É mais fácil sair gritando aos quatro ventos que os outros não prestam, afinal é de senso comum afirmar isso e ter apoio unânime.
Quando uma pessoa insiste numa história cheia de altos e baixos, destratos, abandonos, desaparecimentos súbidos eu só posso chegar num diagnóstico, ela também não “presta”. Ela não presta para se valorizar, seguir em frente, cortar relações com o galã maluco e partir para a outra.
A pessoa que encontra alguém que presta é aquela que cultiva uma vida boa, bons hábitos, tem uma rede de amigos que não reforçam filosofia de botequim e não são amarguradas e cheias de regras sem sentido.
Confesso que quando olhei para atrás na fila para ver quem era a garota que lançou a frase inicial me deu um certo constrangimento. Sua fisionomia revelava uma mulher bonita, mas amargurada e cheia de preconceitos, provavelmente com o perfil das pessoas que tem se queixado.
Será que alguém não presta ou é a a qualidade da interação?
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* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor dos livros “Relacionamento para leigos (série For Dummies)[clique]“, “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos – Frederico A. S. O. Mattos CRP 06/77094
Revisão: Bruna Schlatter Zapparoli