* Texto escrito por Bruno Rodrigues

“A melhor forma de prever o futuro é cria-lo”

Alan Kay

Aqui e agora

Recentemente ao trocar de canal na TV por assinatura vi um filme que me trouxe boas lembranças e que não via provavelmente desde minha infância, começo da adolescência, “De Volta para o Futuro”. E apesar de lembrar aos poucos da história me permiti assistir com olhos de quem nunca tinha visto e foi uma experiência interessante, ao terminar o filme lá estava eu procurando para assistir as sequencias, “De Volta para o Futuro 2 e 3”. O filme é de 1985 e o tempo todo nos remete a reflexões envolvendo passado, presente e futuro com uma genialidade ímpar, a produção foi de Steven Spielberg.

Muitas cenas chamam a atenção. Logo em sua primeira viagem no tempo, ao voltar ao passado em uma época em que seus pais ainda eram adolescentes, Marty McFly acaba impedindo um acidente de carro, o grande problema é que justamente devido aquele acidente que seus pais se conheceriam e se apaixonariam. Naquele momento ele alterava todo o futuro e passaria o resto do filme tentando consertar a situação fazendo com que aquela que viria a ser sua mãe se encantasse pelo seu pai. Uma ideia central do filme é que qualquer ação do passado que seja modificada pode influenciar todo o futuro. Pode parecer exagero e óbvio ao mesmo tempo, mas não é, imagine, por exemplo, se algo acontecesse e tirasse a vontade de Steve Jobs trabalhar com tecnologia, ou se os pais de Santos Dumont não tivessem se conhecido, ou se os Beatles tivessem se desmotivado ao entrarem na primeira gravadora onde ouviram do produtor a seguinte frase: “Jamais uma banda com 4 caras cabeludos fará sucesso”. Só com estes três exemplos o panorama atual da música, tecnologia e aviação seriam outros, talvez melhor, talvez pior, mas outro, foi o conjunto de todas as circunstâncias que o criaram como o são. Na vida acontece da mesma maneira, cada pessoa é o resultado de todas suas ações, escolhas, tentativas ou não ao longo dos anos.

Você pode neste exato momento lembrar dos principais fatos que marcaram sua vida e irá perceber que se as escolhas tivessem sido outras tudo no seu presente seria diferente. Profissão, relacionamentos, finanças, cultura. Uma pessoa que você deixasse de conhecer, ou se não tivesse lido aquele livro que tanto te influenciou ou ainda um lugar que deixasse de ir e que tanto te marcou. Bem, o exercício de olhar para trás pode parecer fácil e até divertido, mas vale lembrar que o hoje será o passado de amanhã e que cada ação nossa neste momento irá refletir de alguma forma.

Em certo momento do segundo filme, Marty McFly e o professor Dr. Emmett Brown viajam ao futuro, mais exatamente para um futuro de 30 anos à frente, o que os leva para 2015, o que hoje é um futuro logo ali. No filme e na visão dos roteiristas 2015 tem carros voadores, roupas futuristas, tecnologia 3D nos outdoors, como na cena clássica em que um tubarão gigante projetado abocanha o personagem principal. Na tentativa de prever um futuro notei que existiram acertos e erros, o que é natural quando se tenta adivinhar algo. O que prova que o futuro não é lógico por mais que se busque ter controle sobre ele. Os carros voadores “ainda” não foram criados, nem tão pouco o skate flutuante de Marty, de outro lado a tecnologia 3D nunca esteve tão em alta, para citar alguns exemplos apenas.

Embora não seja possível ter um controle total do futuro é possível sim atuar sobre ele, e a única forma “por enquanto” que existe é atuando no presente.

Algumas pessoas tem uma ideia milagrosa do futuro, como se fosse um lugar distante e que se pode chegar um dia geograficamente, onde tudo dá certo, onde não falta dinheiro, saúde e todos são felizes. É importante ter sonhos e planos, só que mais importante ainda é colocar os pés no chão e notar que o futuro depende do presente. Uma conta bancária que proporcione tranquilidade no futuro depende de esforços no agora. Ou ainda, aquele corpo sarado que se almeja só pode ser conseguido com muito esforço, dedicação, boa alimentação, pequenos
passos que a longo prazo trazem resultado. Imagine agora aquela pessoa que prometeu começar um regime em janeiro e que em algumas semanas desistiu do desafio, como estaria seu corpo hoje se tivesse seguido uma boa alimentação, mudado seus hábitos, praticado
exercícios, provavelmente seu corpo agradeceria, estariam melhor sua saúde, auto estima e disposição. Mas não se pode voltar no começo do ano, o que pode ser feito é começar agora.
O que você quer ser no futuro? Ou o que você quer ter, ou ainda onde quer estar? Se você quer mudar de profissão comece a buscar alternativas que lhe proporcione isto, se pensa em uma casa na praia comece a economizar, se quer ampliar seus limites emocionais busque terapia, livros, pessoas que venham a somar, cada ação por menor que pareça se mostra preciosa ao longo do tempo.

Os objetivos precisam ser construídos, dia após dia, passo após passo. Uma pessoa que queira correr uma maratona precisa antes aprender a caminhar. Como querer escrever um livro sem antes ao menos formular as ideias. Grandes conquistas são o resultado de pequenas grandes realizações. A pessoa quer o sucesso conquistado por alguém, o status, a beleza, mas não quer percorrer o caminho. É famosa a seguinte frase do italiano Paganini, grande virtuose do violino, certa vez ao final de uma apresentação que encantou a todos, uma menina emocionada chega até ele, o olha com os olhinhos brilhando e diz: “Eu daria a minha vida para tocar como você”, no que o violinista responde: “Mas eu dei a minha vida para tocar assim!”

Anos e anos de dedicação, disciplina, esforço resultaram na sua habilidade. Gosto de pensar que se alguém um dia conseguiu então é possível. O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que inventou a tecnologia que possibilita implantar chips no cérebro costuma afirmar que o impossível é o possível que ainda não foi descoberto e vale dizer que os resultados das suas pesquisas hoje, eram considerados ficção cientifica no passado.

Voltando ao filme, após assisti-lo fui pesquisar sobre a vida dos atores principais e saber como estão neste futuro que hoje é presente e entre todos destaco o Marty, interpretado pelo ator Michael J. Fox que atingiu o auge da fama ao estrelar o filme, tinha apenas 24 anos. O que será
que Michael imaginava do seu futuro, provavelmente estrelar novos filmes, colocar seu nome no hall da fama definitivamente, o fato é que 3 anos depois casou-se, teve filhos, mas aos 30 anos teve uma certeza da qual ele jamais podia esperar, era portador do Mal de Parkinson,
uma forma muito rara da doença que atingia jovens. Tentou atuar por um tempo, mas com o avanço da doença abandonou os papéis, salvo raras participações especiais. Michael não podia prever seu futuro, a realidade se apresentava como ele jamais sonharia, mas ao invés de reclamar, choramingar, se revoltar, ele foi proativo, diante da doença por enquanto sem cura foi à luta e desde então tem arrecadado fundos pelo mundo para financiar pesquisas envolvendo a cura da doença e em especial nas pesquisas com células tronco. Totalmente engajado e conforme diz em entrevistas, completamente realizado como ser humano. Encontrou um propósito para sua vida.

Nem sempre as coisas irão acontecer conforme se planejou, existem situações que impossíveis de serem previstas, o imponderável existe, por mais que se busque pensar em todas as situações há variáveis que não se tem controle e neste caso o mais importante é aprender a lidar com isso, ter resiliência, aprender a seguir em frente mesmo quando tudo o que se sonhou foi por água abaixo, criar novos sonhos, novos caminhos, se adaptar a novas situações.
Construir o futuro baseado em passos firmes no presente, oferecer o melhor para a vida em cada ação, desta forma ao olhar para o passado encontrarás no mínimo uma bela história e a consciência de que ofereceu o melhor.

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*Bruno Rodrigues

É psicólogo clínico com consultório em Alphaville, apaixonado pela vida, amante dos bons livros, ex-sedentário, futuro ex-obeso, viciado em Pro Evolution Soccer. Adora dar palestrar e dificilmente diz Não para uma boa festa.

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