Quem queria não quer
* Por Juliana Guisilin Cordeiro
Eu sempre fui uma menina muito sonhadora. Isso significa que desde pequena queria, imaginava e pedia em orações uma porção de coisas. Sempre fui muito dedicada em tudo que fazia, tinha todos os meus pedidos possíveis atendidos, mas cresci achando que parte das coisas aconteciam ou aconteceriam com um empurrãozinho da sorte.
Sonhava em ser jogadora de volei, pela seleção brasileira e participar de uma olimpíada. Treinei durante alguns anos, mas me deixei abater por um treinador mais duro que me disse “talvez não seja boa o suficiente”. Acho que ali deixei de sonhar. Eu só tinha 15 anos e me contentei em jogar pelo time do colégio e participar de competições naquela esfera. Eu dava o meu melhor sempre, mas ali não passaria da jogadora do time do colégio.
Passei a ter uma visão mais pessimista das coisas, acabei fazendo uma faculdade de direito por acreditar que me traria mais retorno financeiro, do que a psicologia ou a faculdade de educação física. O absurdo de tudo isso é que moda nem estava entre as opções. Na minha cabeça moda não era profissão era hobbie de toda mulher.
Segui a diante com o plano da faculdade de direito, cursei os 5 anos, ganhei uma cicatriz no queixo (desmaio por fadiga e estresse), uma sindrome do pânico e um lindo diploma. Saí da faculdade sem nunca ter entrado de fato. Deixei os livros e os 5 anos de educação superior para trás.
Abri uma escola de inglês, afinal de contas eu sempre amei a língua e já havia trabalhado dois anos como professora. Não era um sonho nunca tinha sido, mas novamente eu me empenhei, trabalhava duro por doze, treze, quatorze horas por dia, exceto no domingo. Durou 2 anos e meio, fechei a escola e dei aulas particulares por mais 8 anos. Ensinar era uma paixão sim, tenho habilidade para isso, mas ainda não era o sonho. Cansei.
Morar fora era outra coisa que eu queria e imaginava desde pequena. Agi. Depois de um namoro de 5 anos e meio e 1 noivado desmanchado parti em busca da realização deste sonho. Eu tinha 27 anos e fui para a Itália. O plano era ficar em Florença por dois meses de férias estudando italiano. Me desliguei de tudo, me abri à experiência e ao “dolce far niente” (tão particular aos italianos), fazia anos que eu não relaxava e aproveitava a vida sem me cobrar.
Como num passe de mágica lá vou eu com a minha magia e os sonhos, renasci. Tudo fazia sentido e finalmente dei voz ao que queria e entendi que precisava trabalhar com moda. Parei de sonhar e agi. Busquei o que existia na área: cursos, faculdades, especializações, tudo mesmo. Me identifiquei com o mercado de luxo e decidi por um MBA de Gerenciamento de Luxo.
De 2007 para cá a moda nunca mais saiu do meu campo de ação, deixou de ser sonho apenas, alguns desvios São Paulo-Itália-Israel-Brasil-mais turbulências, decidi começar o MBA em São Paulo. Me decepcionei não era isso ainda. Desistir? Desta vez, não. Não podia. Não queria. Continuei procurando.
Consultoria de moda? Havia lido tudo a respeito da profissão, muitos livros, havia aplicado o processo em mim e via o resultado dia após dia. Sim, consultoria de moda, blog Sem Espartilhos, finalmente profissional da moda. Aqui sim tem amor, muito prazer e amor. Sonho/Juliana, Juliana/sonho.
A consultoria de moda aconteceu na minha vida não porque eu queria, mas porque agi. Ação após ação, busca após busca com erros, desvios e acertos. Daqui para frente o caminho é imenso e são milhares as possibilidades, mas já não devaneio, ajo. Um sonho apenas imaginado não passa de imaginação. Um sonho agido corre sério risco de se transformar em realidade.
Estes dias uma amiga me disse:
– Eu queria tanto aprender a me vestir melhor…
Eu pensei: caramba, eu falo sobre isso no Sem Espartilhos todos os dias, ela conhece o blog, gosta do blog, gosta da minha maneira de vestir. Ah, entendi! Ela só queria. Se fosse de verdade, já estaria se vestindo melhor.
Quem queria não quer…
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*Juliana Cordeiro – Garota urbana, nascida e criada em São Paulo, viajante nata (se é que isto é possível), sonhadora incansável, Consultora de Moda desde pequena, professora, marqueteira, apreciadora do belo em todas as suas formas. Come pizza toda semana, é louca por brigadeiro e faz aula de dança. Escreve no www.semespartilhos.com.br No Twitter @semespartilhos
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