Por que é tão difícil esquecer um amor?

* Por Frederico Mattos, psicólogo e terapeuta de casais

Acho que essa pergunta é uma das mais feitas e das menos respondidas. Vou me arriscar a fazer isso.

Isso é difícil de esquecer…

O amor como qualquer outra coisa na vida é uma história que tem dois níveis, o real e o imaginário.

O real é o que acontece de fato, com sua rede intrincada e complexa de pensamentos, desejos, sentimentos, comportamentos concretos. É tudo aquilo que pode ser visto e deduzido de modo quase imediato e direto.

O imaginário é tudo aquilo que acontece nas entrelinhas e naquilo que está oculto à apreensão direta. É tudo o que permeia sonhos, expectativas, frustrações, medos e ansiedades. Essas imagens costumam estar contaminadas por ideias miticas, romances épicos, padrões culturais e contos de fadas.

O conjunto do real e imaginário é um tecido delicado no qual uma história de amor começa e termina.

Em algum momento aquela história de amor acaba. Não vou descrever os motivos, mas acaba. E por que não acaba junto com a partida da pessoa?

Porque o amor havia ganhado uma força tão grande que se tornou ele próprio a sua vida.

Nesse conto de fadas você tinha um papel perfeito, bem sincronizado e cheio de força. Naquela narrativa cada movimento, sentimento e intenção tinha um contexto, ator coadjuvante e cenário ideal.

De repente, de um momento para outro você é expulso do elenco, fica desorientada, deslocada e se sentindo desamparada.

De um momento para o outro é testada em sua capacidade de viver quase numa outra cidade ou vale encantado.

As pessoas são estranhas, os lugares desconfortáveis e nada mais parece acolhedor. Todos te olham estranho e você é visto e ouvido de um jeito diferente.

As suas amigas casadas não te convidam mais para sair junto com seu marido. Os parentes não perguntam se você terá um filho em breve. Aqueles olhares simpáticos que te rodeavam perguntando pelo casório se apagam.

De um momento para o outro aquela história que tinha um final feliz é roubada de você. Cada sonho que nutria foi sequestrado de um momento para o outro. Você ficou refém do sentimento de desprezo e humilhação. Se sente indigna e já nào consegue mais acordar com aquele sentimento de pertencer à vida de outra pessoa. Quer chamar alguém de amor mas não encontra ouvido. Quer transformar uma transa em amor, mas não tem o parceiro.

Tudo parece cinzento e a comida tem sabor amargo.

Você gostava de contar a sua vida sob a ótica daquele encontro. Imaginava seu passado como um prenuncio do encontro com ele, seu futuro já estava pintado com as cores daquela pessoa. Sua rotina estava toda encaixada com a dele e cada ligação telefônica tinha um destino certo.

Como esquecer a pessoa amada se com ela tudo o que havia em volta também se foi?

Não é tão simples encontrar outra narrativa, outra história, outro passado/presente/futuro.

Esse é o motivo pelo qual não é tão fácil esquecer a pessoa amada, pois na despedida dela você também se foi…

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