Dificuldade em dar e receber carinho

Me lembro que meu pai adorava fazer carinho no meu pé quando eu era pequeno. O pretexto dele era tirar uma pelezinha que nascia debaixo do meu dedo indicador e eu fingia que acreditava e adorava aquilo.

Quem realmente não gosta?

Com o tempo minha cabeça mudou e achava que aquilo não devia acontecer, afinal eu estava crescendo e não pegaria bem receber carinho dele já que eu era maior. Então me fechei como todo adolescente envergonhado numa timidez tola e parei de receber algo do meu pai, fiquei durão e esqueci como era dar e receber carinho.

Minha mãe me parecia menos afetuosa, ela demonstrava certo incômodo ao me ver abraçando ela constantemente. Eu não entendia porque ela era tão resistente. Só fui descobrir muito tempo depois que aos meus dois anos de idade ela teve um problema nos rins e o médico deu 5 anos de sobrevida a ela. Com medo de que eu me apegasse demais nela e pudesse perdê-la precocemente ela tentou de todas as formas me poupar dessa dor me fazendo apegar mais ao meu pai. Ela sobrevive até hoje passados quase 30 anos dessa história.

A atitude de minha mãe não é incomum, MUITAS pessoas tem sérias dificuldades em dar e receber carinho. Quando a pauta é sobre dar carinho dão desculpas bobas do tipo “não acho necessário”, “basta o que eu faço e é suficiente”, “tenho dificuldade”. Assim como ao receber carinho falam: “não preciso receber”, “me incomoda gente me tocando”, “não gosto de gente melosa ou grudenta”.

A quantidade de gente que tem esse bloqueio é enorme. E isso corrói sua vida de maneira silenciosa, no trabalho, na família e principalmente no relacionamento amoroso. Carinho é todo tipo de afago, seja ele verbal num elogio, comportamental num momento que oferece algo de valor pessoal ou um gesto de cafuné.

As motivações são as mesmas, orgulho em forma de medo.

É quase um ultraje pedir carinho em tempos em que é proibido expressar afeto sob pretexto de não se submeter ou ser feito de bobo.

Todo mundo quer ser independente e livre de compromissos e adora dizer que não precisa de ninguém. Criou-se uma cultura do “eu me basto”.

O que eu noto é que as pessoas estão mais tristes e isoladas, morrendo de medo de gostar do carinho de alguém e depois se ver no cais do porto dando adeus em lágrimas. Preferem nem entrar na brincadeira para não sofrer depois. Vivem tudo pela metade e se privando do brinquedo achando que ele irá quebrar ou ser roubado.

Resultado catastrófico, a nossa pele precisa de contato. Estudos já comprovaram que pessoas deprimidas se beneficiam do toque humano e pacientes acamados se recuperam mais rápido sob o toque corporal.

Dar carinho também é um tormento para muitos como uma tarefa hercúlea, parece que se sentem tão superiores que oferecer algo de si provoca pena do outro e até gostam de ficar fazendo joguinhos e manipulações do tipo “eu tenho, você não tem”.

É algo meio miserável, não gostam de criar dependência e por medo de ter alguém rastejando aos seus pés negam qualquer tipo de conforto. Algumas se sentem bobas fazendo cafuné outras são tão endurecidas que nem conseguem sair de sua mágoa para ir ao encontro dos outros.

Depois de tanto alegar falta de carinho ou dificuldade em fazer carinho resolvi ser bem prático.

Mesmo que no começo fosse difícil fazer carinho e não fosse 100% honesto e verdadeiro eu fazia. Parecia que estava alisando um sofá, mas insisti, com o tempo senti  a reação positiva das pessoas e comecei a me alimentar daquilo. Notei que um elogio bem colocado era melhor do que dez críticas para fazer uma pessoa caminhar.

Para receber também quebrei o impasse pedindo “faz cafuné”, pondo a cabeça no colo que nem cachorro mesmo, sem hesitação. Ainda que parecesse estranho e a outra pessoa achasse bobo eu me submetia que passava a fazer parte da rotina.

Ninguém nasce sabendo e pode até ter sido educado a ser frio, mas isso não é desculpa para nada se você realmente tiver vontade de mudar.

O mundo seria mais feliz com carinho. Desafio você, faça e peça cafuné para alguém agora mesmo, onde estiver e observe a reação sua e da outra pessoa. Orgulho?

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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