Joguinhos amorosos não têm vencedor
Diversas vezes me pego participando de um jogo velado, silencioso e incômodo. Com vontade de ligar, não ligamos. Com vontade de admitir “Estou envolvido até o pescoço”, não admitimos. Loucos de vontade de repetir o programa da noite anterior, não convidamos.
Relutamos em responder. Se dermos o passo e formos atrás, o outro se acomoda, pensamos. Se cedemos e buscamos pelo outro, não temos o gostinho (curto e falso) de ter o outro na mão. Ficamos com a impressão de que não nos valorizamos, nos sentimos diminuídos.
Quando o outro vem atrás, cedendo, finalmente sossegamos, repousados na ilusão de que agora, finalmente, vencemos e estamos conduzindo a relação. Cegos, somos incapazes de enxergar que a única coisa que ganhamos aí foi um parceiro mais inseguro, menos atraente. O ônus é todo nosso. Longe de convenções casamenteiras e convencionais, relações devem somar, fazer de nós pessoas melhores, mais interessantes, menos incompletas. Portanto, ganhar esse jogo é total contra-senso.
Talvez sirva para relações rasas, passatempos, mas logo cai. E cai feito bola de neve, criando abismos cada vez maiores, a cada vez que a birrinha ganha. São pequenos términos, que acontecem dia após dia. Se o outro não ligou ontem, nós é que não vamos ligar hoje, pensamos. Falta lucidez para enxergar que o outro está num redemoinho de confusões, exatamente como nós. No fundo, não queremos vencer no jogo, queremos ser felizes. Em um momento de surto, nos enganamos e achamos que seremos felizes vencendo.
Mas aquela fase boa da conquista?
E aquela expectativa saudável?
E aquele espaço que é mais que necessário? Ele surge naturalmente. Temos uma capacidade incrível de criar situações, de imaginar vácuos onde eles não existem e de achar que o pensamento do outro está “aqui”, quando na verdade está “alí”. E isso basta. Não precisamos do jogo proposital e orgulhoso. Pensar “eu corro mais atras que o outro” é uma pequenice, um lapso da nossa mente querendo ser feliz a todo custo. Somos todos livres, vivendo uma maluquice sem tamanho, tripulando um pedaço de pedra gigante que vaga por aí.
Melhor cultivar uma vida interessante e com propósito, e deixar que as dinâmicas se estabeleçam naturalmente. Os espaços e as expectativas surgem desse cultivo. Ao priorizar nosso próprio horizonte, indiretamente beneficiamos nossas relações, mesmo que aparentemente eles não apontem exatamente para a mesma direção. Todos querem estar do lado de pessoas que sabem para onde estão indo.
Parcerias são infinitamente melhores que namoros.
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*Eduardo Amuri – Computeiro, apaixonado por cultura, empreendedorismo, música, finanças, viagens e pessoas. Devoto assumido dos bons amigos, apega-se facilmente e está para o que vier. Extremamente dedicado e persistente, é membro honorário e participante ativo do grupo dos que tentam abraçar o mundo. Jura que um dia deixa disso. Ou não. Escreve em seu blog e no Twitter: @eduardoamuri.
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