O Luto de uma Pessoa Amada

Como encarar a morte de uma pessoa que amamos?

Nada a declarar

Não sei dizer, porque não sei falar sobre A morte. Sei falar sobre a morte do meu pai.

A despedida do meu pai foi uma morte anunciada. Para todos, menos para mim. Eu tinha 18 anos e estava estudando sozinho em casa para entrar na faculdade, tempo difíceis. Seu câncer linfático carcomia sua vitalidade dia após dia. Aquele homem fisicamente forte e cheio de disposição estava indo embora a cada nova sessão de quimioterapia e internação. Eu via uma sombra pálida da pessoa que apenas se queixava de dores e incômodos com tudo. No alto do meu egoísmo (ou defendido da dor) eu ignorava tudo o que ele dizia e não conseguia me relacionar com aquela pessoa convalescente.

Ele foi internado próximo do seu aniversário em julho de 1999 e eu pensei que aquele homem que sempre fez o possível para me proteger nunca iria morrer, afinal, ele me prometeu que não morreria.

Mas ele morreu, sem me avisar quando, como e porque. Não se despediu, não deixou recado e muito menos o endereço de onde poderia encontrá-lo. Passados quase 13 anos de sua morte eu ainda procuro esse endereço. Já procurei ouvindo histórias boas e ruins sobre ele, em vídeos onde ele estava ou fotos de família, até em mensagem psicografadas e nos meus sonhos eu tentei, já procurei ele no meu corpo e herança genética, e no meu jeito de ser. Tentei recriar o meu pai de todos os jeitos. Mas a única coisa que sei é que ele ainda está morto e nada do que eu faça o trata de volta.

Hoje em dia não sinto dor ou saudade lancinante, mas não posso garantir que nunca mais vá sentir.

A dor do luto é um pouco de tudo isso, mas em essência o que mais dói é sentir que eu não serei mais o mesmo.

O luto de alguém que se vai é pouco altruísta e muito mais ligado às nossas necessidades.

A dor real é que não teremos mais aquela fonte de satisfação à nossa mão. A sensação sólida de ter uma pessoa ao meu lado atendendo meus anseios se vai de um momento para o outro.

A morte de alguém é um acontecimento sempre trágico e absurdo. Não por ser violenta e acidental, mas por nunca ser desejável e esperada, ainda quando anunciada.

Todos os nossos desejos, intenções e perspectivas de ação são raptados por um destino que não controlamos. Somos catapultados para um abismo solitário em que nenhuma ajuda, consolo e aconselhamento pode trazer conforto.

Não há nenhum alívio quando você perde a si mesmo com a morte do outro.

Seu dinheiro não ameniza isso, sua beleza tão pouco ajuda, o status faz nada porque diante da morte todos somos nivelados pelo mesmo horizonte. Cada um a seu tempo irá morrer, goste ou não.

Quando alguém morre é a nossa própria morte que é lembrada. Somos alertados que o falso sentimento de controle que temos é muito frágil, como uma nuvem no céu.

Estamos todos morrendo de algum jeito. A mudança é uma forma de morte já que os sentimentos mudam caoticamente a tal ponto que o amor ou a raiva que sentíamos fortemente pode cessar a qualquer minuto sem aviso prévio.

Qualquer promessa de constância, lealdade e vida perpétua pode ser rompida sem que sua vontade intervenha.

A morte nos lembra quão frágil tudo é. O castelo de certezas e verdades que construimos em nossa volta de um momento para outro se torna uma sombra do real e nos vemos num deserto de convicções vazias.

A morte de alguém que amamos que pode continuar vivo (no caso de separações) nos relembra da grande morte final.

Por isso evitamos mudanças, principalmente as bruscas, pois elas nos alertam para o destino fatal a que ninguém pode se furtar.

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Gosto desse vídeo que postei aqui, ele é bem simbólico [click aqui]

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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