Os Freds Que Conheço
Esse texto NÃO é escrito pelo Fred. Esse texto é escrito por mim. “Mim” na ocasião, significa André Costa, amigo do Fred desde 1997. Ou 98. Sei lá, não sou bom com esse lance de memória. Estou invadindo o Sobre a Vida para prestar homenagem ao Fred, que faz 31 anos nesse dia 24 de outubro.
Mas falar sobre o Fred é uma abstração. Impossível falar sobre alguém de fato. Frequentemente, a gente toma nossa própria visão das coisas como sendo a verdade absoluta. E dá-lhe guerra santa, guerra fria, guerra de torcida. Tudo por que a gente tá tão convencido que a nossa visão é a medida real das coisas que a gente acha o outro absurdamente burro ou sei lá o que por não concordar com a gente. E eu não sou diferente. Se você não concordar com esse texto problema seu =P “prrrr” =)
Aqui retrato a minha visão do Fred. Achei que já que tanta gente lê o blog e/ou só o conhece como psicólogo, que seria legal dar a eles uma visão mais próxima do Fred, já que convivo bastante com o dito cujo.
Essa é a minha visão dos vários Freds que conheço e não um retrato exato do Fred verdadeiro. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 😉
O Fred-que-joga-wii
Bom, vamos começar logo pelo pior. Assim, daqui pra frente só melhora.
Você não conhece o Frederico até jogar Wii com ele. Idade mental: 8 anos. Sério. Mas não é aquele garoto boa-praça, gente-boa de 8 anos. Se você é homem, você vai entender. Pensa naquele cara de 8 anos em quem você queria bater quando você tinha 8 anos.
Ao começar a jogar ping-pong no Wii, ele vai se transformar. Tipo lobisomem na lua cheia ou Pateta Motorista, saca? Marrudo mermo, ele vai tirar sarro de você até você não conseguir mais ouvir sua voz. Iiiiisso até você ficar melhor que ele e começar a ganhar dele sem parar. Aí a culpa é do controle do Wii. Sempre o controle maléfico que conspira contra o Fred.
Vai fazer uma cara de emburrado e poucos amigos. Respostas grossas e curtas. Recomendo a você colocar um sorriso de orelha a orelha. Isso vai deixar ele vermelho. De pura raiva psicopática. =)
Impressionantemente, quando o jogo acaba, esse Fred vai embora. Era tudo uma farsa, uma postura com a qual brincar e que ele sabe lidar muito bem. Não que ele estivesse fingindo. Ele realmente queria te matar há um segundo atrás. Mas essa é uma das habilidades mais interessantes do Fred: saber dar às coisas da vida a devida importância. Mudar conscientemente o estado emocional do momento. Qual a graça de se jogar Wii se você não assumir a postura de que aquele jogo está decidindo algo extremamente importante e você não jogasse como se sua vida dependesse disso?
PS: Importante ressaltar, que o Fred só vai se permitir ser o Fred-que-joga-wii se você for muito amigo dele e souber que é tudo uma “farsa”. Ele jamais faria isso com alguém mais suscetível, sensível; não magoaria alguém só por um jogo. Mas ele sabe que eu sou um semi-bárbaro e que é mais fácil magoar o controle maléfico do que a mim.
O Fred nerd-adolescente
Mas nem sempre ele foi tãão maduro assim. Na nossa adolescência não nos bicávamos. O Fred era meio nerd, eu era meio sem noção. Eu era (era?) extremamente provocativo, e o Fred pagava de santo com uma cara de pau incrível.Peroba nele! Por estarmos num ambiente meio moralista, o embate aberto não era bem visto. O Fred movia mundos e fundos pra me provocar de alguma maneira. E eu também. Mas como o texto é meu, vou pintar ele como o vilão da história, ok? Eu sei que você é leitor dele, mas seja bonzinho com o time visitante e me ajuda aqui… ; )
Claro que era tudo bobagem. De alguma maneira a gente se acostumou com essa idéia absurda de que não nos gostávamos. Lembro que de vez em quando a gente esquecia da nossa guerra-não-declarada e batia altos papos. Hoje em dia já confessamos que ambos tínhamos uma admiração secreta pelo outro.
Por tomarmos rumos diferentes, ficamos anos sem nos falarmos. Quando o encontrei de novo anos depois, esse Fred já não estava mais lá.
O Fred psicólogo
Conheci esse Fred em uma época extremamente complicada. Veja bem, vocês não me conhecem, por isso vou ilustrar a situação com uma metáfora: eu me submeter à psicoterapia, é a mesma coisa que o Papai Noel roubar a muleta de um garotinho da AACD pra jogar golfe. Então você pode imaginar o quanto eu estava mal quando procurei terapia. Claro que tinha que ser com o Fred, não confiava muito em psicólogos…
Sem querer ofender os psicólogos, mas existe uma turma deles por aí que precisa urgentemente de terapia. Ou pelo de menos um reality-check. Com abordagens Poliana demais, pseudo-sabedoria complacente. Não ia rolar de ser paciente de qualquer um…
Voltando ao assunto, entrei na terapia esperando complacência e mais do mesmo. Que engano o meu! Frequentemente saía mais angustiado do que quando entrava na sessão. Com a habilidade de um cirurgião, (de vez em quando ele me lembrava o House da série de TV), ele ia habilmente desenrolando a teia do problema e me levando a reflexões mais profundas. Sempre de um jeito cru e às vezes desolador. MAS HEY! Tempos depois descobri que ele não é assim com todos os pacientes!
Ele calibra a abordagem de acordo com a personalidade do paciente em questão.Tipo remédio personalizado. E adaptando a terapia à minha personalidade racional-pragmática, ele realmente me ajudou.
Como? Me ajudando a fazer as perguntas certas! Você ficaria abismado de perceber quantas perguntas mudariam a sua vida, mas que você não tem condições de fazê-las, simplesmente porque não há na sua memória registros desse tipo de linha de raciocínio. Você só pode pensar de acordo com aquilo que você já viu/vivenciou, certo? Você provavelmente pensa como um ocidental, com algo do jeitinho brasileiro, criado num paradigma judaico-cristão. Mas nem imagina como isso influencia, todos os dias, o modo como você pensa, sente, age e como isso influencia os resultados que tem na sua vida seja ela qual for.
Os anos e anos de leitura incessante – ele é rato de livraria como eu – haviam dado retorno: ele tinha conseguido bagagem suficiente para pensar de modo contra-intuitivo dentro da psicologia. Se você lê Malcom Gladwell ou Freakonomics, sabe do tipo de raciocínio que estou falando.
Para você ter uma idéia, o problema que eu tinha não é de cura fácil. Nem é tão comum, embora também difícil como a depressão. A maioria atravessa a vida convivendo com o problema, e se entope de remédios. Disse ao Fred que não queria remédios.
E conseguimos. Não tenho mais o problema. Estou curado! Um feito admirável. Palmas pra gente!
O Fred sereno (até demais)
Esse Fred trata tudo com uma relatividade enorme. Muita coisa irrita ele. Muita mesmo. Com o tamanho da ambição que o cara tem, imagina o quanto ele não fica frustrado por muita coisa. Mas ele definitivamente não chuta pedra na rua por isso. Nem grita com você. Essa talvez seja a qualidade mais interessante desse sujeito.
Veja bem, eu conheço muuita gente covarde. Gente que não levanta a voz nem quando DEVE, com medo de levar um tapa. Não é o caso.
Acreditando que a raiva não é uma reação natural mas uma resposta cognitiva, o cara tem a manha de dissipar pensamentos-gatilho antes que se transformem em explosões de raiva; imagina alguém te fechar na rua e o carona (eu no caso) gritar VAI SE F… a plenos pulmões e você nem parar de comentar o assunto do momento… Você tem esse auto-controle? Pois é… o cara tem.
Firme quando tem que ser, mas nunca vi o cara se irritar com qualquer coisa que não tenha utilidade. “Ué, mas o cara é um bunda-mole passivo?” – você pode perguntar…
Ahhh mas é aí que tá o truque: irritar ele se irrita; ele só não gasta energia com o que não precisa.Não me pergunte como ele faz… É de impressionar, meninos e meninas… Me dá até raiva!
O Fred sarrista
Muita gente acha que ele é um psicólogo incorporado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Que analisa o frentista do posto.
Nada mais longe da verdade. Com uma capacidade memorável de falar besteira, morro de rir todas as semanas com esse cara… De riso fácil, pensamento rápido e as vezes meio lerdo pra entender algumas coisas, me mato de rir com algumas pérolas. Infelizmente não me lembro de nenhuma agora. Já disse que não tenho uma memória muito boa?
Perguntem pra ele, vamos ver o que ele lembra…
O Fred pugilista intelectual
De vez em quando, entramos em debates filosóficos. Ele fala de autores reconhecidos da psicologia. Eu falo de experiências descritas em livros como Freakonomics ou do Malcom Gladwel. Recheados de palavras de incentivo e apoio, tanto da parte dele como da minha, tais como: “seu animal!”, “sua anta”, “não cara, que decepção, pensei que você fosse mais inteligente”, “ahhh meu, pula da janela, faz esse favor pro mundo”, com bom humor, nos divertimos discutindo aborto, comportamento, psicologia, paradigmas, relacionamentos, posturas éticas, (ou nem tanto assim…), livros, filmes, carros, mulheres, geografia, história, posturas machistas x feministas, desenhos do Pateta e etc em papos que as vezes vão pela madrugada adentro…
O Fred sensível
Esse é f…. O cara fala de mais sentimentos de vez em quando do que posso processar. Meninas: vocês, desde pequenas são acostumadas a falar de sentimentos e resolverem esses problemas falando. Nós, meninos, aprendemos a lidar com esses problemas bebendo, trabalhando, vendo futebol, fazendo sexo, batendo, gritando ou indo para a caixa do nada. Não sabemos como lidar com sentimentos. Não choramos em filmes. Claro, temos nossos momentos. Não somos de pedra. Mas além de uma vez no natal, outra no ano-novo, e mais as vezes que vocês nos pedem para obrigam a discutir a relação, não somos chegados num assunto, digamos assim, mais humano-chorôrô.
Agora, imagina um cara, que além de conseguir expor o que sente, (muitas vezes por mês), consegue falar isso de um jeito tão eloquente que não soe patético… Sério, esse cara conseguiria falar de sentimentos até com o John McClane…
O Fred apaixonado
Se o Fred é sensível em condições normais de temperatura e pressão, imagina a aventura pela qual ele ( e seus amigos mais próximos) passam quando ele tá apaixonado…
Esse Fred se supera! Ele vai pegar toda a sabedoria masculina de milhares de anos de evolução com a qual nós podemos ter todo o controle da situação… e vai CONSCIENTEMENTE jogar tudo pela janela! Im-pres-si-o-nan-te!
Reunião de amigos-machos. Todos concordam que o mais sensato a fazer é ir devagar. Todos sabemos que é melhor ele manter o controle e fazer o desejo e amor da moça crescerem antes de se mostrar fisgado. Concordamos que todos sabemos que a maioria das mulheres não sabem ver um cara sendo sincero e declarando o quanto gosta dela cedo demais sem pirar ou ficar em dúvida sobre sabe-se lá Deus o quê… Todos aconselham a ir com calma, que é o mais lógico a fazer. Tudo bem que ele REALMENTE ama a moça. Mas ela não precisa saber agora né?
Então ele estufa o peito, vai lá e se declara inteiramente, sem medo de ser feliz! E nem adianta explicar o misterioso fato de que quando o cara fala exatamente o quanto gosta da moça, a mulher que já ama o cara e não admite nem pra ela mesma, vai dar 30 passos pra trás, se perguntar um milhão de coisas e criar um milhão de dúvidas descabidas. Ele sabe disso. E não tá nem aí. Vai lá e fala mermo! Macho saco-roxo, não gosta de jogos e não joga nem pra salvar a própria pele. Diz ele que prefere “ser sincero com o que sente”.
Pô Fred! Escreve um diário cara!
Assim você mata os pobres-amigos do coração! Que coisa…
O Fred triste
Como com toda pessoa no mundo, de vez em quando a peteca quer cair… e dá pra perceber. Pelo menos, eu percebo. As pessoas ao redor tem uma facilidade enorme de esquecer que ele é humano. Nessa hora, eu só o abraço. E digo que a gente vai sair dessa, seja essa qual for. Dura alguns dias, no máximo. Menos frases. Menos risadas. Umas lamentações, que são mais repetições do problema em voz alta, seguidas de um “E se….” com algum plano mirabolante na ponta da língua…
O Fred sócio
Imagina um cara corajoso. Que embarca num negócio sem medo de arriscar. E que não desiste quando parece que as coisas vão ficar difíceis. Nem quando parece que cabeças vão rolar. E que a cabeça é a sua própria.
Defina arrojo. Um cara megalomaníaco nos negócios. E perceba que isso é uma coisa boa. Que tem pensamento de abundância e expulsa o pensamento de escassez como se fossem moscas (daquele tipo mais chato, que fica voltando pro mesmo lugar). Esse é o Fred-empresário, preparado para perseguir uma idéia inovadora e maluca, mesmo quando o resto da equipe fica desmotivada e pula fora do barco.
Noites de trabalho no Skype. Meses de pura persistência. Meio Rocky Balboa sabe?
O Fred amigo pessoal
Ele vai te colocar pra cima quando você estiver no chão. Vai te mostrar uma saída alternativa quando nem você estava mais botando fé. Vai te fazer repensar os caminhos, vai perder noites tentando te mostrar como mudar um hábito mental que tá te boicotando. Vai gritar com você se necessário, mas não vai aceitar que você faça um pacto com a mediocridade. Quando você conseguir fazer as piores besteiras na sua vida, quando todo mundo, inclusive você, já desistiu, ele ainda assim vai acreditar em você. E isso vai fazer TODA a diferença.
Parabéns Fred! Tenha um ótimo 31º ano de vida!
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