Orgulho, o grande ladrão de felicidade -1a parte

O orgulho é meu maior entrave psicológico, por essa razão me especializei nesse assunto. Escrever sobre isso é arranhar bem forte nesse obstáculo que me acompanha há 30 anos.

Mimado...

Sempre busquei definições para o orgulho e toda as que eu encontrava não me satisfaziam por um motivo simples: tocavam uma dimensão bem superficial do orgulho.

O orgulho enquanto conceito elevado de si mesmo, nunca me convenceu. Já me vi inúmeras vezes sendo dominado por ele em situações bem pouco elevadas ou vantajosas.

O orgulho pode ser tão sutil que sequer percebemos sua manifestação em diversas situações do cotidiano corroendo nossos momentos mais felizes.

Por essa razão coloquei o título, o ladrão da felicidade. Mas não qualquer ladrãozinho, o maior.

O orgulho é uma fixação psicológica na vivência exagerada e distorcida da própria identidade, diante de si e dos outros.

É uma fixação psicológica pelo fato de poder ser desfeita, a qualquer momento você pode abrir mão dessa fixação e seguir em outro caminho.

É uma vivência por que engloba sensações, emoções, pensamentos e conceitos.

Exagerada pelo fato de que pode ser para mais ou para menos, mas ainda assim girando sobre si.

Distorcida porque não sendo a realidade dos fatos o orgulho surge como uma miragem.

Identidade porque é o conjunto de concepções que criamos em torno de nós mesmos.

Agora que coloquei o que entendo por orgulho vou falar um pouco como vejo ele se manifestando em nossas vidas.

O orgulho é em essência um autocentramento. O critério para identificá-lo: em que você está vendo a mais daquilo que realmente é?

Uma pessoa que diz que é cheia de defeitos na tentativa de mostrar-se humilde é tão orgulhosa quanto aquelaque arrota mil consquistas pessoais que não realizou.

O sentimento de ser especial e ter uma missão importante são manifestações comuns do orgulho. Aquele desejo de ser uma pessoa vista, querida, reconhecida e amada pode estar contaminada por essa imagem ilusória de si mesmo.

O orgulho tem uma propriedade parecida com a medusa, se você olhar demais para ele ficará paralisado como pedra. Isso chamamos de reificação ou dar um peso exagerado para algo. O orgulhoso adora dizer que tem opinião sobre as coisas e chamar para si o centro dos debates. Mesmo os que se escondem e ficam amuados também gostam disso, no entanto, se abdicam de lutar por esse espaço.

Nao importa o quão frágil uma pessoa seja o orgulho surge nela também. A diferença é que ela é orgulhosa de não se sujar com essas futilidades.

Vegetarianos adoram se mostrar ecologicamente superiores, os carnívoros por serem exaltadores do prazer.

Puritanos se fecham numa casca de pureza grandiosa, os devassos se esbanjam como descolados.

Pessoas de fé tentam terceirizar sua megalomania para Deus, os incrédulos para seu intelecto.

Não importa o quanto tentemos, o orgulho não diz respeito ao que você faz e acredita, mas ao modo como faz isso. O fechamento de possibilidades de interação, troca e abertura denuncia seu orgulho acredite em Deus ou no Diabo.

O orgulhoso foge do questionamento, da ignorância, do vazio, da ambiguidade e de qualquer situação na qual não esteja no seu controle. E como tudo está for a do nossoa controle o orgulhoso é especialista em criar cenários de aparente controle e segurança.

O orgulho se manifesta de modos diferentes em áreas diversas da vida.

Orgulho e o tempo

O orgulho também pode aprisionar a pessoa em relação ao tempo. Nostálgico se preso ao passado (não consegue perdoar ou se desligar de alguém), hedonista inconsequente se preso ao presente (adora atrasar) e idealista iludido se preso ao futuro (mil promessas e nada produzido).

Orgulho e relacionamento amoroso

 No relacionamento amoroso o orgulho é desastroso pelo simples fato de que ele cria um eclipse em relação ao amor. O amor é um espaço de possibilidades emocionais que promovem o bem estar e a felicidade das pessoas envolvidas. Na medida que o ponto de importância recai sobre uma pessoa é bem possível que ambas não consigam ver uma a outra numa relação amorosa.

Um casal pode ser dominado por imagens internas ilusórias de si mesmo por muito tempo. Alimentam uma relação baseada em carência, apego e jogos de poder que se mostram intermináveis. O orgulho é muito responsável por nos manter fixados num ex-relacionamento, principalmente aquele no qual fomos deixados.

Orgulho e família

É comum o orgulho ser o responsável pela maior quantidade de brigas em família. Cada um está preso numa imagem ideal de si mesmo. Um acha que é o mais correto, o outro o mais amoroso, outro diz que dá de si mais do que todos, outro que é o mais esperto. Assim giram as identidades falsas de si mesmos causando conflitos de poder, bloqueando a generosidade e impedindo que os outros se relacionem para além das próprias identidades orgulhosas.

Orgulho e trabalho

O ambiente de trabalho é um local bem propício para o orgulho ser incendiado, afinal é o poder que está em jogo. Onde há poder o orgulho está presente. Desde o funcionário mais simples até o CEO o orgulho pode se manifestar. O primeiro por ser aquele que ninguém reconhece e o último por acreditar que sem ele nada funcionaria. Aqueles que estão no meio dessa fatia se debatem em jogos para obter o pequeno poder. Tudo na vã tentativa de se sentir especial e reconhecido financeiramente ou por competência.

Amanhã vou continuar essa história e dizer como o orgulho pode ser fonte criadora de outros problemas em nossa vida como a mágoa, depressão, raiva, inveja, timidez, preguiça, ciúme, medo, culpa, humildadade, bondade e sofrimento.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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