Eu tenho tudo e não estou bem!
“E então, o que trouxe você para terapia?” – perguntei tentando quebrar aquele gelo inicial.
“Tenho um bom emprego, uma bela mulher, filhos lindos, casa e carros de primeira qualidade, no entanto, não me sinto bem” – rebateu aquele homem de boa aparência e olhar apagado.
Pior que isso!
Fiquei intrigado (sempre fico) com a resposta. Como seria possível alguém não estar bem mesmo tendo tudo o que deseja?
Comecei a meditar sobre a natureza do desejo e do querer. Ele tem aquilo que quer, no entanto não deseja aquilo que quer.
Ele quer um bom emprego, quer uma bela mulher, quer filhos lindos, quer uma casa, quer um carro, no entanto não está vívido ou entusiasmado. Seu desejo não acompanha os passos da sua vontade.
Não havia outra mulher, nem impasses no emprego, problemas com os filhos, nem dívidas com casa e carros.
Quantas vezes já aconteceu isso em sua vida?
No exato momento que conquista aquilo que tanto queria, passa a não desejar mais.
Freud elucidou um pouco sobre essa questão ao falar do movimento da libido (do desejo de conexão) em busca de um objeto (um alvo) e da tensão entre o estado desejoso e a realização do desejo.
O desejo na medida que é um captador de realidades ainda-não-possíveis parece que se alimenta da ausência, da falta de algo. A saciedade mata o desejo, frustra o desejo na medida que o atende. Como no sexo, o orgasmo é a meta do prazer, mas é o que mata o prazer.
Portanto, nem sempre aquilo que você deseja é aquilo que você suporta vivenciar.
A riqueza pode lhe parecer agradável aos olhos, mas você pode não saber administrar a sensação de saciedade que ela lhe traz.
O amor perfeito pode ser a peça que faltava no seu psiquismo, no entanto você pode não suportar sentir-se saciado no desejo de amar.
Essa é uma questão sem solução, mas por puro espírito científico eu precisava levantar a questão…
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