Patinho feio (ou bonito) – 3a parte de 3

No primeiro post eu falei sobre minha experiência pessoal com a feiúra e no segundo falei sobre o desenvolvimento da personalidade da pessoa feia.

Agora vou falar do desenvolvimento da personalidade da pessoa bonita.

Você deixaria ela esperando numa fila de banco?

Pense numa criança recém-nascida. Um pouco disforme, molhada e enrugada. Em alguns minutos depois de limpa e aprumada você consegue ver pequenas feições harmônicas. “Que bebê lindo!”, mas dessa vez o apelo é unânime e sem mentiras, realmente o bebê é bonito. “Vai dar trabalho!” é o que se ouve daquela tia velha.

Na infância

A criança bonita é de um encanto sem medida. Por onde passa é olhada, vista, tocada, acarinhada, beijada, abraçada e até respeitada. Ela não consegue entender à princípio o porquê das pessoas rirem imediatamente ao seu sorriso. Ela só sabe que sorrir atrai o sorriso dos outros.

Esse jogo de cintura vai aumentando na medida que o tempo passa. Os espelhos passam a ser utilizados e a comparação com os amiguinhos ganha consistência. Ela vai percebendo que os olhares se voltam para ela com mais frequência do que as outras crianças. “Menino lindo!” é ouvido com um aperto de bochechas constrangedor.

Essa criança percebe que os pais a expõe em algumas festinhas e até em desfiles. Ela não entende bem, mas entende que basta sorrir e colocar a mão na cintura que já é o suficiente para receber aplausos.

Agora já sabe que chama atenção com sua presença. Na escola as meninas querem ficar ao lado dela e a buscam com mais frequência. Ela se torna um pouco líder da turma e acaba por decidindo o rumo das brincadeiras. Seu poder de barganha é alto, pois os meninos não se encorajam de bater nela, mas apenas provocá-la. Ela nota que eles a olham com um desdém misturado com desejo.

Na adolescência

Na adolescência as diferenças vão ficando evidentes. O meninos bonitos são líderes que conduzem seu rebanho de garotos perdidos e sem identidade que querem ser como o seu herói pegador. Ele sorri e as meninas se derretem, as professoras se calam e os pais concordam.

As meninas criam uma febre em torno de si mesmas, lançam moda, tendência, roupas e ficam com o menino bonito e inalcansável.

Dessa pessoa os estudos nem sempre são cobrados com tanto afinco, afinal agenciar um jovem tão bonito e promissor gasta tempo. O estudo nem sempre ajuda a carreira artística.

Seu grande trunfo é sorrir e pedir com jeitinho. Não há porta fechada para a pessoa bonita: são convidadas a mais festas, passeios, cinemas e parques que os demais. Gente bonita atrai gente bonita que atrai pessoas com dinheiro.

Preconceito com bonitos

O bonito também sofre preconceito, pois precisa provar que tem algo mais do que beleza exterior aos demais. Sofre ataques de inveja e está sempre sob ameaça da competição das outras pessoas. Meninas tem o dom de descriminar as bonitas como se fosse um pecado, “além de bonita quer ser feliz?”.

O ciúme também é muito presente, pois uma mulher bonita no ambiente causa um alvoroço entre outras mulheres mais inseguras. E ainda que gostem e se acostumem a causar esse frisson, no fundo gostariam de ser aceitas como pessoa.

Antes de começar meu trabalho clínico tinha um contato longínquo com mulheres bonitas, realmente bonitas. Isso mudou quando uma de minhas primeiras pacientes chegou. Morena bonita me contou o seu dilema em prantos. Estranhei e pensei comigo, sei que é ingenuidade, mas mulher bonita tem problema e chora. Até hoje percebo isso, pois a beleza para algumas pessoas é um problema.

“Será que me ama pelo que eu sou ou pela minha beleza?” ou “será que gosta de mim ou quer se exibir?”, “será que só quer me comer?”.

Conflitos amorosos

Os problemas amorosos são muito parecidos como os de qualquer pessoa. O excesso de confiança estética oscila tanto quanto em qualquer outra mulher. Muitas vezes até mais, pois como a perfeição é a meta a variação de humor pode ser drástica caso a sobrancelha não esteja alinhada.

Outro conflito da pessoa bonita é que ela passa a se relacionar com o mundo por meio da beleza, do corpo e da sensualidade. O poder de barganha é tão alto que a pessoa não sabe ou não consegue escolher. Já ouvi coisas como: “as vezes fico confusa, porque eu poderia escolher algum entre muitos homens, mas sempre que escolho um penso que também poderia ser outro”.

A pessoa bonita sofre do mal da abundância vazia, pois são tantas opções que nenhuma parece realmente significativa. Alguns podem pensar: “quisera eu poder escolher tanto assim!”. Não é tão simples, porque a confusão emocional pode ser tão asfixiante quanto a falta de escolha.

Desafios

Sem perceber a pessoa bonita pode começar a banalizar as pessoas e realmente acreditar no poder da aparência como algo determinante. Fica preguiçosa emocionalmente e não se esforça para ser gentil ou atenciosa, basta sorrir. Pode se tornar esnobe por acreditar-se numa categoria à parte da humanidade comum. Xico Sá comenta isso no vídeo contido nesse post!

A pessoa bonita passa o tempo todo, sem perceber, comparando sua beleza com as demais. Isso pode se tornar uma obsessão sem fim, causando stress, cansaço mental e oscilações de humor, até depressão.

Perder a beleza

Mas o incômodo realmente abate com o passar do tempo, pois a velhice rouba o viço da pele e torna a pessoa apreensiva quanto à perda progressiva de atenção. Sua beleza e poder de atração estavam diretamente ligados à jovialidade. Sua autoestima começa a ficar refém da ampulheta, lentamente o mundo vai ruindo e a pessoa bonita começa a olhar a realidade sob outra perspectiva.

Pessoas que antes eram desprezíveis começam a ganhar valor humano. Finalmente aquela hipnose de anos em que homens e mulheres caiam aosseus pés chega ao fim. O sonho bom termina e ela acorda na realidade crua, depois de anos de estrelato pode chegar o anonimato. Agora o reinado é das mais novinhas.

Muitos homens e mulheres bonitos conseguem ressurgir das trevas do tempo e reinventar a si mesmos.

Veja o que Antonio Banderas fala:

 Não é bom se importar muito com isso, tem que simplesmente aceitar. Eu acredito que um homem pode ser sexy de várias formas, e não necessariamente tenha que ser bonito. […] Estou acostumado a me olhar no espelho há 50 anos.Confesso que já perdi a objetividade de mim mesmo.

Aquela beleza madura se associa com a beleza interior.

Eu pessoalmente não acho que a beleza interior é melhor que a exterior. Porque o feio pode se tornar um ressentido e nada garante que ele seja mais bonito por dentro pelo fato de não ser por fora. E pessoas muito bonitas pode ser pessoas extremamente humanas e gentis. Beleza é beleza, se ambas estiverem unidas ótimo.

Um brinde a beleza humana.

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About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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