Depressão
Normalmente a pessoa deprimida é vista como pessoa frágil, de personalidade delicada, temperamento melindroso e sensível ao menor dos abalos. Superficialmente, essa análise é correta.
A pessoa deprimida é um desafio para a Psicologia, pois é o tipo de paciente refratário a qualquer tipo de ajuda. Sem perceber arrasta qualquer um para o seu mar de autopiedade e sentimentos tóxicos.
Toda ajuda é considerada intromissão ou insuficiente. Faz de todos a sua volta escravos de sua tristeza irrecuperável, -impotentes frente a tanta dor e sofrimento emocional.
Atrás dessa casca de fragilidade o deprimido é o narcisista “que caiu do cavalo”. Está fechado em si mesmo.
O narcisista é aquele que acredita e sente que o mundo lhe deve favores e que a realidade deve ser torcida e mudada conforme seus gostos e desejos. É um mimado e todos tem que circular ao redor de seus desejos. Deve ser atendido aqui e agora e por todos, sem exceção.
Beleza, riqueza e prestígio nunca são suficientes. O narcisista cai do cavalo quando percebe que o mundo não traz privilégios numa bandeja. Sua vontade exclusivista é ignorada, seu desejo irreal é subestimado, seus sonho megalômanos não se cumprem. Isso o aborrece, afinal, foi habituado a receber tudo o que queria.
Essa maré decrescente vai acumulando insucessos até que a pessoa começa a constatar fracasso pessoal. Acumula desastres pessoais e as vezes até os provoca.
O quadro final é aquilo que chamamos de depressão: apatia constante, falta de forças emocionais e físicas para seguir em frente, choros ininterruptos e desalento geral no desempenho social.
Cabe ressaltar que o mundo que vivemos hoje é muito propício à depressão. Exatamente porque estimula nosso narcisismo. O psiquiatra Geraldo Ballone comenta em seu site: “busca do gozo e do prazer, o hedonismo dominante da sociedade moderna, quando não está continuamente presente na vida da pessoa, quando não mobiliza para o lazer, quando não se manifesta com extroversão, inquietação ou euforia, acaba causando um estranhamento capaz de fazer pensar em alguma coisa anormal, mórbida, patológica.”
Nem sempre depressão é depressão, mas um narcisismo fracassado.
A saída para o deprimido é perceber o mimo que alimenta. Exercitar a aceitação do mundo como ele é e não como gostaria que fosse. Perceber que ele não é a única referência do planeta e desistir dos privilégios.
Perceber que o amor é um sentimento de mão dupla.
A generosidade sem exigências, portanto, é a verdadeira cura da depressão.