Reflexões em meio à natureza selvagem

Último sábado estive juntamente com um grupo de aventureiros em Monte Verde. Fiz uma trilha que incluia entre outros picos, o Chapéu do Bispo e Pedra Redonda. [ouça essa música enquanto lê]

Você é sempre livre.

O instrutor e guia Rivaldo era praticamente um John Locke Tupininquim “a gente pode errar o caminho, mas se eprder jamais!”. De cara ele ganhou minha simpatia e confiança, afinal, eu nasci com um GPS à menos na alma.

Começamos a jornada caminhando forte num ladeira à cima fortíssima. Ali eu soube que não seria tão simples a história.

O fôlego inicial foi dando lugar às dores lancinantes na panturrilha. Eu já rezava para que minhas pernas voltassem do coma.

Entramos na serra fechada e depois de duas horas começou aquele comichão interno em que meus pensamentos não paravam. Pensei: “venho praticando metidação há cerca de 2 meses, por que minha cabeça nào para?”

Resolvi me concentrar apenas no caminho que tinha à minha frente e olhar para os meus pés, nada mais.

Minha mente parece que se liberou. Passo a passo eu notei que só havia o momento presente diante de mim. Nada mais que realmente fosse importante. Alguns pensamentos tentavam me sequestrar, mas eu apenas me despedia deles, sem piedade.

De tempos em tempos me vinha um pensamento do tipo: “daqui a pouco vai chegar”. Não, não chegava, demorava e quanto mais demorava pior eu me sentia.

Percebi quantas vezes faço isso no meu dia pensando que daqui a pouco algo vai chegar e não chega. Não preciso fazer nada além disso, apenas ficar comigo sem uma esperança boba de que algo especial vai me acontecer. Até porque quando eu chegava num dos picos me vinha a sensação de que havia chegado. E daí? Apenas cheguei. Nada diferente de antes.

Não existe lugar melhor. O único lugar possível é aqui. Qualquer coisa que você tente comparar será tola, porque não é o cenário mudando que irá mudar quem você é. Quem você é pode mudar qualquer cenário.

Outro pensamento que surgia era: “vai ficar mais fácil”. Depois de 5 horas de súbidas tínhamos algumas paradas. Isso não aliviava muito, só a fome. O corpo estava mais exausto, apesar de mais condicionado.

Me dei conta de que a vida não fica mais fácil com o passar do tempo. Os desafios se tornam mais complexos, você envelhece, a vitalidade vai embora, as pessoas mais velhas morrem e as responsabilidades aumentam. Ficar esperando o cenário ideal para começar a fazer algo realmente significativo é a coisa mais ingênua que alguém pode pensar. O tempo todo somos livres e nem notamos isso. A qualquer momento eu podia simplesmente parar, tentar outra coisa, tudo é uma escolha, mesmo o que pensamos ser uma condição imutável.

Algumas pessoas começaram a implorar para que o destino final chegasse: a pizzaria.

Me dei conta que tenho a tendência a pensar que o depois é melhor do que o agora. Aquela vã esperança de que lá é melhor do que aqui.

O depois nao é melhor do que o agora, assim como hoje não é melhor do que ontem. Tudo é apenas diferente. Sem muitas categorias qualitativas percebi que vivemos um horizonte mais sereno. Resolvi aproveitar a dor no pé e a exaustão do meu corpo para ficar exausto e nada além disso. Isso aliviou minha fome. Em dado momento a pizzaria chegou e vi alguns dizendo que não viam a hora de dormir. Mente sempre à frente, nunca presente.

Ao retornar à civilização notei que aquela trilha depois de 8 horas me lembrou de coisas óbvias que faço questão de esquecer. Ter um amigo por perto foi essencial para aumentar o sentimento de comunhão. Nem sempre preciso fazer tudo sozinho, como é hábito meu. Guilherme deixava seu iPhone tocando um belo tango moderno, isso aliviava o caminho.

Grande Guilherme!

E diante daquela natureza selvagem percebi que o grau de importância exagerada que dou a mim mesmo não passa de um delírio. Sou bem vulnerável, qualquer descuido e a natureza poderia me engolir.

Sei que esse delírio vai me raptar de novo, mas ter esse lapso de lucidez foi essencial para que eu começasse a minha semana com olhos diferentes.

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Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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