Você está no lugar errado – sobre inadequação

* Por Frederico Mattos 

Você já sentiu como Charlie Brown, nessa tirinha?

Eu me sinto assim em muitos momentos, inadequado.

Minha primeira lembrança de infância me vejo num grande parquinho de areia na escola que eu estudava. Eu tinha a sensação que não devia estar ali. Inadequado.

Eu suava frio cada dia que precisava ir para a escola, mesmo adorando aprender. Inadequado.

Nas festinhas eu ficava sempre no canto um pouco tímido conversando no máximo com 1 pessoa. Inadequado.

Entre amigos todos contavam suas aventuras com bebidas, mulheres e viagens e eu apenas sorria um pouco bobo. Inadequado.

Havia apenas um lugar onde não me sentia assim: minha cabeça.

Esses dias descobri que não apenas eu me sentia assim, mas figuras notórias também.

Gostaria de falar sobre Kurt Cobain, líder e vocalista da banda Nirvana.

Esse é o roqueiro ou o menino?

Desde jovem foi uma pessoa doce e até um certo ponto pura. Ficava claro nas entrelinhas do livro seu sentimento de solidão, inadequação e de não se enquadrar no mundo. “Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança”

Sua liberdade criativa também o acompanhou e nunca se prendeu a nada na hora de criar algo.

Apesar desse sentimento de inadequação ele se aventurou e correu riscos pessoais para conseguir simplesmente colocar para fora seu mundo interior cheio de amor e revolta.“E acho que eu simplesmente amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal”.

Talvez a música o tenha ajudado a se adequar um pouco num mundo que parecia tão caótico e incompreensível. “Desde os sete anos de idade passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece muito fácil se relacionar e ter empatia.”

Mas, é possível que tudo tenha sido um pouco insuportável para ele como ficou claro em sua carta de despedida, antes de tirar a própria vida. Jamais teremos certeza do que realmente se passou em seu coração.

Não é incomum esse sentimento de inadequação. Nascemos pequenos, carecas, banguelas e totalmente impotentes para salvar as nossas vidas.Habitamos um mundo de gigantes e com poucos recursos, totalmente inexperientes e despreparados.

Momento a momento somos desafiados a agir para sobreviver aos embates sociais. Desmame, escolinha, novos amigos, autoridade da professora, conflitos com os pais, choques de ideais, escolha de carreira, namoro, casamento, emprego, filhos, velhice, morte…

A todo momento estamos lidando com impasses que nos tiram da condição comum.

Parece que o amor das pessoas e o sentimento de pertencimento ameniza esse desconforto. Mas mesmo com o amor dos outros esse sentimento nem sempre acaba, pelo contrário até aumenta.

O que atormenta o inadequado é sentir que não pertence a esse mundo tal como é. Em nenhum grupo se sente suficientemente acolhido. Entre roqueiros percebe que também gosta de sertananejo, entre os crentes se vê duvidando de Deus, entre os bobos se sente um pouco esperto, entre os espertos se sente um pouco bobo.

Nunca encaixa plenamente.

Até suas paixões são um pouco frouxas. Nenhum time, partido político ou crença religiosa o faz viver entregue plenamente. Aquelas manifestações de ardor coletivo o invejam, pois queria pertencer àquilo cegamente.
A dúvida sempre o corrói e até seus amores são um pouco menos intensos porque sempre pensa que algo mais estaria por vir. É torturado pelo idealismo.

Elefante: será que alguém me percebe?

A tirinha do Snoopy é genial, pois aponta um caminho para essa dor silenciosa. Talvez nunca fiquemos totalmente confortáveis na vida. No entanto, a chave pode ser exatamente essa: não há alternativa, e esse é o mundo que nos cabe. Podemos ficar imaginando um mundo maravilhoso e ideal em nossas mentes ou mergulhar nessa realidade muitas vezes árida e pouco hospitaleira.

Seria o mundo unicamente inóspito ou seríamos nós, os inadequados, rígidos demais em nosso idealismo purista?

Quebrar nossa casca de superioridade sobre a realidade cotidiana talvez fosse um bom caminho. Frustrar nossa sensibilidade excessiva, deixar calos em nossas mãos domesticadas pelo conforto que a mente distante criou.

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Avatar fred barba* Frederico Mattos: Sonhador nato, psicólogo provocador, autor do livro “Como se libertar do ex” [clique aqui para comprar] e “Mães que amam demais”. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas cultiva um bonsai, lava pratos, oferece treinamentos de maturidade emocional no Treino Sobre a Vida e se aconchega nos braços do seu amor, Juliana. No twitter é @fredmattos e no instagram http://instagram.com/fredmattos

About the author

Sonhador nato, psicólogo provocador, apaixonado convicto, escritor de "Como se libertar do ex" e empresário. Adora contar e ouvir histórias de vida. Nas demais horas medita, faz dança de salão e lava pratos.

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